data-filename="retriever" style="width: 100%;">E eis que é Natal! Mais um ano de pandemia, gente tendo perdido familiares e amigos, empregos e rendas. Ano de conflitos, competições cruéis, injustiça social, manobras urdidas contra a paz e a fraternidade. Mas é Natal. Os temperamentos suavizam, os espíritos enobrecem, as esperanças renascem, a confraternização predomina. É até possível que o olhar triste do menino despossuído para a vitrine seja notado, que o gari que recolhe o lixo todo o dia, sol e chuva, seja presenteado.
O Natal para os cristãos celebra o nascimento de Jesus Cristo, aliás na manjedoura de um estábulo. Tornou-se celebração universal à fraternidade, para além dos aspectos religiosos. Na sociedade do espetáculo e do consumo, metamorfoseou-se em oportunidade de presentear, data comercial, ambiente para luzes multicoloridas, até personagens inusitados como o Papai Noel. Pouco a ver com a cena bíblica do casal pobre, que estava em deslocamento para atender a um recenseamento e, na urgência do parto, viva o desamparo da ausência de teto e acomodação adequada.
Mesmo assim, restam sentimentos, emoções, propósitos, comportamentos que podem ser traduzidos como "espírito de Natal", estágio mais elevado da condição humana. E se um de nós sobreviveu inteiro à maratona dos preparativos, compras e afazeres que antecedem a noite natalina é possível que esteja tomado de emoção boa, lembranças amenas, intenções fraternas. Bendito espírito de Natal que refreia e apazigua a fera cruel, o opressor despudorado, o oportunista safado que habita cada um de nós. O espírito de Natal nos devolve por algumas horas ou um dia a condição de humanidade.
Nada daquela ideologia da competição desvairada, na qual a minha felicidade tem de ser a infelicidade de outrem. Ou da agressividade latente, pronta para explodir num simples episódio de trânsito, brincadeira de futebol ou conversa de política. Ou aqueles sentimentos de superioridade, de desprezo aos diferentes, de menosprezo para com os menos aquinhoados em instrução ou riqueza.
Para além das trocas de presentes, das ceias lautas ou parcas, das reuniões familiares e das confraternizações nas redes sociais, há o olhar para as virtudes, o encontro com as emoções, a expectativa de melhorar como pessoa e cidadão. Há aquele reencontro com a pureza de criança ou o sentimento de se saber membro de uma imensa família de seres humanos.
O problema está nos dias seguintes. Semanas, meses adiante. Perderemos, novamente, o espírito natalino e tudo voltará a ser como antes no comportamento, na postura social e nas relações com os demais? Teremos um 2022 repleto de desafios para cada pessoa, família, comunidade, nação. Vamos atravessar dias difíceis e seria necessário levar fagulha das luzes natalinas, um tanto da inspiração do espírito de Natal. É isso que desejo. "Feliz Natal" quer dizer para mim mesmo e para todos: que o espírito de Natal esteja presente em cada um dos próximos 365 dias!